Auschwitz, Campo de Concentração Polônia
- Auschwitz I
- Auschwitz II Birkenau
- Como chegar
- Como é a visitação
- É apropriado tirar fotos em um campo de concentração?
- Para quê visitar um lugar como esse?
- Auschwitz, a origem do nome
- Localização: Por que em Oświęcim?
- Arbeit macht frei: significado da frase, B invertido e roubo da placa
- Anne Frank
- O Papa João Paulo II em Auschwitz
- Por que Hitler odiava tanto os judeus?
- Fontes de Pesquisa
No dia 27 de janeiro de 1945, o campo de concentração de Auschwitz foi libertado. Toda a área foi recuperada e preparada para se tornar um grande e importante Museu, que em 1947 começou a receber visitantes.
Eu estive em Auschwitz, e nesse post vou mostrar o que vi e quais foram minhas impressões. É um post delicado, possui fotos sensíveis, mas procurei descrever a visita com muito cuidado e respeito.
É tocante quando a gente visita um lugar que só conhecíamos através dos filmes e dos livros. As histórias da Segunda Guerra sempre mexeram muito comigo, e sem dúvida, ter estado em Auschwitz foi uma experiência que nunca irei esquecer.
Eu esperava visitar o campo com um olhar puramente histórico, tentando me desvencilhar emocionalmente da realidade absurda que aconteceu por lá, mas é impossível não se envolver. Afinal, Auschwitz é o próprio símbolo do genocídio cometido por Hitler contra o povo judeu.
Auschwitz foi o maior campo de concentração nazista da história. Existiram vários outros, mas Auschwitz foi o mais mortal. Cerca de 1 milhão e meio de pessoas foram mortas lá durante a Segunda Guerra Mundial (entre 1940 e 1945). Só em 1944, havia 100 mil prisioneiros e 6 mil foram mortos diariamente.
Foi muito impactante pra mim ver de perto os uniformes listrados originais.
Diz uma placa no local: “Não há outro lugar na Terra onde os judeus tenham perecido como resultado de métodos criminosos em um lugar tão limitado e em um espaço tão curto de tempo. O solo dos campos de Auschwitz constitue o maior cemitério do mundo e um lugar de genocídio.”
Por que Hitler odiava tanto os judeus? LEIA AQUI
Foto dos arquivos de Auschwitz.
Importante ressaltar
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Em Auschwitz, 90% dos prisioneiros foram judeus e 10% eram de outros grupos chamados pelos nazistas de "raças indesejáveis", como negros, ciganos, homossexuais, doentes mentais, deficientes físicos, anões, opositores políticos e até mesmo Testemunhas de Jeová. Obs: os ciganos (também chamados de rom ou roma) eram os indianos de origem romani.
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Em 4 anos de existência, estima-se que em Auschwitz foram mortas cerca de 1,5 milhões de pessoas. Desse total, pelo menos 960 mil eram judeus, de várias nacionalidades. Além deles, também foram mortos 150 mil poloneses, 15 mil presos políticos soviéticos, 23 mil romas (indianos chamados de ciganos) e cerca de 400 Testemunhas de Jeová.
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Judeus vindos da Hungria foram os que mais morreram em Auschwitz! Em 1944, 475 mil judeus húngaros chegaram no campo durante a "Solução Final", plano de extermínio total de judeus ordenado por Hitler. Quase a metade da população judia da Hungria foi exterminada em Auschwitz, em apenas 3 meses.
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85% de todos os prisioneiros que passaram por Auschwitz morreram. Apenas 15% deles sobreviveram.
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Os que não morreram nas câmaras de gás, morreram de fome, doenças infecciosas, trabalhos forçados, execuções individuais ou experiências médicas.
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Auschwitz recebeu prisioneiros (judeus e não judeus) vindos não apenas da Alemanha e Polônia, mas também de vários outros países invadidos pelos nazistas por toda a Europa.
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Havia duas guerras acontecendo ao mesmo tempo: a guerra da Alemanha contra o resto da Europa e a guerra de Hitler contra os judeus.
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Historiadores afirmam que se Hitler tivesse dedicado os últimos meses da guerra se preocupando mais com estratégias e menos com a obsessão de matar os judeus, provavelmente a Alemanha resistiria por mais tempo.
Auschwitz recebeu prisioneiros vindos de vários países invadidos pelos nazistas por toda a Europa.
Auschwitz I
O complexo de Auschwitz possui 2 campos de concentração:
- Auschwitz I
- e Auschwitz II Birkenau
Em Auschwitz I é onde fica aquela entrada famosa, a do portão com a placa de ferro escrito "Arbeit macht frei" (O trabalho liberta).
Entenda o real significado por trás dessa frase CLIQUE AQUI
Note que a placa tem a letra B de cabeça para baixo. Saiba por que, CLIQUE AQUI
Nessa foto, tentei pegar a sombra dos escritos da placa no chão.
Setembro 1939 - A Alemanha invadiu a Polônia e a Segunda Guerra Mundial foi declarada. As tropas alemãs ocuparam o país e os nazistas fizeram muitos prisioneiros (a maioria judeus). Os alemães criaram os guetos, que eram bairros cercados, onde os judeus eram isolados e controlados. Quando os guetos e as prisões começaram a ficar cheios demais (de judeus e de pessoas revoltadas com a guerra) surgiu a necessidade de ter um outro lugar para mandar os prisioneiros, foi aí que surgiu Auschwitz I.
Abril 1940 - Auschwitz I foi construído. (Auschwitz era a forma que os alemães pronunciavam a palavra Oświęcim, que era o nome da cidade). Para os nazistas, Auschwitz localizada no sul da Polônia, era um lugar ideal porque:
- Já existia por lá um quartel do exército que serviria de base.
- Oświęcim contava com uma importante rede de ferrovias que a conectava com as principais cidades da região, o que facilitaria muito a logística de transporte de prisioneiros em massa.
- Oświęcim era perto de Cracóvia, cidade onde ficava a Base Nazista do Leste.
- Era um lugar isolado: a cidade oferecia espaço ideal para medidas que assegurassem isolamento.
Então, a área onde já existiam 16 prédios que serviam de alojamento para a artilharia do exército, passou a funcionar como campo de concentração.
Junho 1940 - Chegaram os primeiros prisioneiros no campo. No total eram 728 pessoas, judeus ou não. No início, eram poloneses intelectuais, membros da resistência e prisioneiros políticos soviéticos. Mas depois, à medida que a Alemanha ia invadindo outros países na Europa, mais prisioneiros eram mandados para Auschwitz. Aí então, a grande maioria dos prisioneiros passou a ser de judeus.
Como é a visitação - Hoje em dia, alguns prédios servem de escritórios para a administração do complexo (visitantes não têm acesso). Já os outros prédios, podem ser visitados.
Mapa de Auschwitz I. Marcados de azul são os pavilhões que podem ser visitados.
Vista aérea de Auschwitz I (GoogleMaps).
Cada prédio aborda um tema - A visitação pelo campo de Auschwitz I foi organizada da seguinte maneira: cada prédio aborda um tema diferente e expõe objetos, fotos, painéis, filmes, obras de arte e instalações que mostram as atrocidades que aconteceram em Auschwitz. Podemos circular livremente por entre os prédios e visitá-los em qualquer ordem.
Ao redor de todo o campo, havia cercas elétricas de arame farpado e muitas torres de vigilância.
As cozinhas de Auschwitz I - As duas fotos abaixo são da cozinha do campo, com suas várias chaminés. Esse pavilhão fica logo na entrada, à direita da placa "Arbeit macht frei".
Blocos 4 e 5 - Nesses prédios ficam expostos objetos que pertenciam aos prisioneiros. Assim que chegavam em Auschwitz, eles eram obrigados a se desfazer de tudo que possuíam. São pilhas de sapatos, malas, óculos, próteses ortopédicas, muletas, montanhas de cabelos cortados e vários outros objetos pessoais, muitos ainda com os números e com os nomes das pessoas.
Observação: Esses objetos são apenas uma pequena amostra do que sobrou, porque quando os nazistas perceberam que iam perder a guerra, tentaram destruir o maior número possível de evidências de seus crimes, esvaziando os galpões e colocando fogo em tudo.
Malas.
Utensílios.
Sapatos.
Óculos.
Próteses ortopédicas e muletas.
Montanhas de cabelos que eram usados para a confecção de tapetes, roupas e cobertores para os soldados.
É impactante ver de perto os típicos uniformes listrados azul e branco.
Registros mostram que uniformes listrados já existiam bem antes do nazismo. Era um modelo de vestimenta usado desde o século 18 com o objetivo de identificação (geralmente de prisioneiros), sem mencionar que estampas com listras são mais baratas e de fácil produção. As listras eram frequentemente associadas a trabalhos forçados, fome, doenças e condições desumanas. Para os nazistas, vestir todos os prisioneiros igualmente, era uma forma de humilhação. As pessoas perdiam a individualidade. Era um método de crueldade psicológica, fria e sistêmica. (Fonte: Holocaust Centre North)
O gás assassino - Ainda existem latas do ZYKLON-B, produto químico (cianureto) utilizado nas câmaras de gás. Foi aqui em Auschwitz I que os nazistas iniciaram os primeiros testes com esse pesticida altamente tóxico em forma de cristais (tipo umas pedrinhas) que era jogado através de escotilhas nas paredes ou por um buraco no teto, e com o contato com o ar, liberava o gás cianídrico, matando as pessoas asfixiadas em menos de 15 minutos.
Câmaras de gás e crematórios - Pude entrar em uma câmara de gás e confesso que não foi fácil. Senti um aperto no peito. É punk o negócio. Dá pra ver as marcas dos arranhões nas paredes, marcas de unhas causadas pelo desespero. Não pode fotografar no interior das câmaras, então peguei a foto no site oficial do museu. Eram colocadas em torno de 800 pessoas por vez em cada câmara. Depois, os corpos eram cremados em fornos que ficavam nas salas anexas. As cinzas eram jogadas em lagos e rios da região. Fica em exposição uma urna contendo cinzas humanas que foram recolhidas nas proximidades dos crematórios em 1945 quando o campo foi libertado.
Câmara de gás e crematório.
Interior de uma câmara.
Marca de arranhões nas paredes.
Crematório.
Bloco 6 - Nesse bloco, o tema é sobre o tipo de vida que as pessoas levavam no campo. Nas paredes, há muitas fotos tiradas na época e ilustrações feitas pelos próprios prisioneiros. Também há projetores que ficam passando filmes (reais) mostrando como era a rotina e o funcionamento do campo.
Até 1943, fotos de cadastramento eram feitas logo que as pessoas chegavam. Com o aumento do número de prisioneiros, os nazistas pararam de fotografá-los.
"Mortos-vivos": Os prisioneiros eram tão maltratados, que muitos morriam com 5 meses de campo. As duras condições de trabalho, combinadas com a pouca alimentação e falta de higiene, levavam a um crescimento considerável da taxa de mortalidade.
Ficam expostas várias ilustrações que foram feitas pelos próprios prisioneiros.
O fotógrafo de Auschwitz - Wilhelm Brasse, um prisioneiro polonês de 20 anos, foi encarregado de tirar fotos de Auschwitz. Em troca, permaneceria vivo. Ele foi um dos poucos prisioneiros que recebeu alimentação adequada, roupas e teve permissão para tomar banho. Os nazistas tinham uma obsessão em documentar tudo relacionado ao seu regime. Wilhelm foi obrigado a fotografar tudo que se passava ali. Quando a derrota da Alemanha se tornou iminente, ele recebeu ordens para destruir todas as fotos, mas conseguiu salvar milhares para mostrar ao mundo o que tinha testemunhado. Ele sobreviveu e viveu até 2012, mas ficou tão atormentado pelo horror que presenciou, que nunca mais tocou em uma máquina de retratos.
Wilhelm Brasse.
Umas das fotos mais famosas de Wilhelm é essa abaixo, da polonesa Czeslawa Kwoka, de 14 anos, que antes de posar para o retrato, levou uma surra por não entender o que a oficial alemã dizia. Então, a menina enxugou as lágrimas e o sangue do rosto e se posicionou para o registro. A foto, originalmente em preto e branco, recebeu cor em uma homenagem da artista brasileira Marina Amaral.
Anne Frank - No final de 1944 chegaram a Auschwitz os últimos trens de judeus vindos de toda a Europa. Anne Frank, de 15 anos, e sua família estavam entre os deportados da Holanda. Logo no desembarque, Anne foi separada dos seus pais. Ela e sua irmã passaram 2 meses em Auschwitz. Devido as péssimas condições de higiene no campo, uma epidemia de tifo se alastrou e as duas contraíram a doença. Ambas foram mandadas para o campo de Bergen-Belsen na Alemanha. Lá, Anne morreu da doença, aos 15 anos, em 1945. Depois da guerra, seus diários se tornaram um impressionante documento da perseguição de judeus pelos nazistas. Leia mais sobre Anne Frank CLIQUE AQUI
Anne Frank.
Bloco 7 - Mostra os dormitórios precários e as condições sanitárias insalubres.
Sala de banho.
Bloco 10 e as terríveis experiências médicas - Esse bloco fica fechado para visitação. Só podemos passar na frente da porta. Aqui, médicos nazistas usavam os prisioneiros como cobaias em experimentos desumanos, dolorosos e traumáticos. O objetivo era testar procedimentos, drogas, medicamentos e vacinas. Várias mulheres foram cobaias em testes de esterilização, para impedir a reprodução das "raças inferiores", como eles diziam. Além de estudos de anatomia e de esqueletos, houve até tentativas de mudança da cor dos olhos.
Um dos médicos mais falados foi o Dr. Josef Mengele, conhecido como "O Anjo da Morte". Entre 1943 e 1944, ele fez experiências em mais de 1,5 mil prisioneiros gêmeos (adultos e crianças). Cerca de 200 deles sobreviveram à guerra, e contaram tudo que presenciaram ali.
Mengele provocava doenças em um dos gêmeos para saber se acontecia algo com o outro. Depois matava ambos para fazer autópsias comparativas. Ele também costurava uns nos outros para tentar criar gêmeos xifópagos (unidos pelo mesmo corpo). Mulheres grávidas também eram alvo das experiências de Mengele, em que ele praticava vivissecção (dissecação com a pessoa ainda viva) antes de mandá-las para as câmaras de gás. (Fonte: Arquivos de Auschwitz)
Geralmente, as crianças eram mortas logo que chegavam no campo, mas gêmeos eram poupados para servirem de cobaias nos experimentos médicos do Dr. Mengele.
Bloco 11: A Prisão - O Bloco 11 era considerado "a prisão" do campo. Em 1940, quando os primeiros prisioneiros chegaram, eles eram mandados para o Bloco 11. No início, eram apenas poloneses membros da resistência e presos políticos soviéticos. Depois, chegaram prisioneiros em massa, vindos de vários países ocupados pelos nazistas (a maioria judeus) e o Bloco 11 virou lugar de punição para quem não cumprisse as regras no campo.
Sala de audiências do tribunal alemão.
Prisioneiros eram executadas no paredão dos fuzilamentos e nas forcas coletivas. Na parede, ainda é possível ver as marcas das balas. No local, há sempre flores e homenagens às vítimas.
Parede dos fuzilamentos.
1941: A invenção das câmaras de gás - Nos porões do Bloco 11 ficavam as piores celas, aquelas das punições mais severas, como as celas da fome, as celas verticais (onde os presos dormiam de pé), e as celas escuras (onde os prisioneiros morriam sem ar aos poucos). Do ponto de vista dos nazistas, os métodos usados até então para liquidar os judeus, não eram eficientes. Com o tempo, somente as celas, os fuzilamentos e enforcamentos não eram o bastante. Eles queriam matar mais gente de maneira mais rápida. Foi quando, em 1941, nos porões do Bloco 11, foi feita a primeira experiência usando o gás Zyklon-B. Em uma das salas, trancaram 600 prisioneiros de guerra soviéticos e 150 poloneses, que morreram rapidamente. A partir daí, estava criado um dos maiores sistemas de aniquilação de seres humanos da história: as câmaras de gás.
Porão do Bloco 11.
A forca coletiva - No meio do campo, fica a estrutura de madeira usada para enforcamentos coletivos, que eram feitos em público para servir de exemplo para os prisioneiros que tentassem alguma rebelião, como de fato aconteceu no Levante de Varsóvia em 1944. Os alemães acabaram com a rebelião, capturaram 15 mil rebeldes e os enviaram para vários campos de concentração espalhados pela Europa. Os que vieram para Auschwitz (cerca de 6 mil) foram enforcados nesse local.
Forca coletiva.
A forca de Höss - Nos fundos de Auschwitz I, perto dos crematórios, fica a forca onde o comandante Rudolf Höss foi executado. Höss foi o comandante nazista que serviu por dois anos em Auschwitz. Ele foi um dos responsáveis por testar e implementar vários métodos de execução em massa, principalmente usando o gás ZYKLON-B. Quando a guerra terminou, Höss foi capturado, julgado e condenado à forca pelo Superior Tribunal Nacional Polonês. No dia 16 de abril de 1947, em frente à casa que ele morava, perto dos crematórios de Auschwitz I, sua sentença foi executada. Ele morreu aos 46 anos. Höss foi muito bem retratado nos filmes "O Menino do Pijama Listrado", "A Lista de Schindler" e "Zona de Interesse".
Rudolf Höss morava com a esposa e os 5 filhos em uma casa colada ao campo. Da janela era possível ver o interior de Auschwitz. O cheiro que exalava dos crematórios era insuportável e a visão era horrível. Quando no seu julgamento perguntaram o que ele dizia aos filhos ao verem aquelas pessoas esqueléticas, morrendo de fome, quase cadáveres, ele respondeu que dizia aos filhos que não eram pessoas, eram “Untermensch”. O termo, em alemão, significa ‘sub-humanos’, que era a maneira como os nazistas se referiam aos judeus. (Fonte: O Julgamento de Höss)
Höss sendo levado para a forca.
Bloco 15 - Aqui o tema é o sofrimento e a luta dos poloneses desde o início da Segunda Guerra Mundial. Os nazistas odiavam os poloneses e pretendiam exterminar o povo e a nação. Esse bloco é todo dedicado à resistência polonesa. Documentos mostram como o povo lutou, mesmo perante a tantas dificuldades, até chegar no famoso Levante de Varsóvia, que foi o único movimento de resistência que enfrentou os nazistas, um fenômeno único na Europa ocupada. Eu escrevi sobre isso no meu post sobre Varsóvia. LEIA AQUI
Bloco 15.
Bloco 27 - Aqui o tema é sobre a vida dos judeus antes da guerra. A finalidade é mostrar e falar mais sobre a rica cultura judaica, porque nas décadas do pós-guerra, a história só falava dos cemitérios, do Holocausto e dos guetos. Aos olhos do mundo, judeu era sinônimo de morte. Mil anos de vida judaica não são menos dignos de lembrança do que os 6 anos do Holocausto. Então, aqui há vários documentos que enaltecem a cultura judaica, mostrando que os judeus tiveram uma vida interessante e maravilhosa, e que não houve apenas a morte.
E na última sala, aí sim, voltam-se as homenagens aos mortos. Há um livro gigante onde estão mais de 4 milhões de nomes de vítimas do Holocausto. O trabalho de pesquisa e coleta dos nomes é feito pelo Instituto Yad Vashem de Israel, e segue sendo realizado.
Existem outros pavilhões que tratam de outros temas, nesses eu não entrei:
- Bloco 13: Perseguição contra roma (rom ou roma eram indianos de origem romani, também chamados de Ciganos)
- Bloco 14: Perseguição contra soviéticos
- Bloco 16: Perseguição contra judeus eslovacos
- Bloco 18: Perseguição contra judeus tchecos e húngaros
- Bloco 20: Perseguição contra judeus franceses e belgas
- Bloco 21: Perseguição contra judeus holandeses
Auschwitz II Birkenau
Com 1 ano e meio de existência, Auschwitz I já tinha recebido tantos prisioneiros (e eles não paravam de chegar) que foi preciso construir um outro campo bem maior, agora com a finalidade clara de matar o maior número de pessoas possível, como "uma fábrica de mortes". Foi aí que Auschwitz II Birkenau foi construído.
Cenas de um filme real - Sabe aquela cena clássica que vemos nos filmes e documentários, daquele portão parecendo uma “casinha”, por onde passam os trilhos dos trens que chegavam abarrotados de vagões de prisioneiros? Pois é! Aquilo estava bem na minha frente. É de arrepiar, porque não se tratava de cenário de filme, era real! A grande maioria das pessoas que passaram por esse portão, jamais sairiam vivas dali.
Outubro 1941 - O campo de Auschwitz II Birkenau foi construído. "Birkenau" é a tradução alemã para Brzezinka (floresta de bétulas - um tipo de árvore). Esse era o nome da pequena vila polonesa onde o segundo campo foi construído. Auschwitz II Birkenau foi o maior campo de concentração nazista da história. Devido ao seu tamanho, foi o que abrigou e assassinou mais gente. 85% das pessoas que passaram por ali, morreram. Sua construção começou em outubro de 1941 para descongestionar o campo de Auschwitz I que já estava ficando pequeno para tantos prisioneiros.
Fábrica de Mortes - Auschwitz II Birkenau foi pensado e projetado para ser uma "Fábrica de Matar". Foi um campo de extermínio gigante e eficiente, exatamente como os nazistas idealizavam. Tanto que a planta do lugar se parece mesmo com a de uma fábrica, com prédios construídos em posições estratégicas para atender a uma logística de produção em série - a produção de mortes. Cerca de 7 mil nazistas trabalharam em Auschwitz, entre guardas e oficiais de várias patentes.
Foto: Wikipedia.
Ruínas - Auschwitz II Birkenau é um lugar enorme, porém quase vazio. O que restou dele está praticamente em ruínas, porque pouco antes da guerra terminar, os nazistas destruíram tudo que puderam, na tentativa de apagar as provas das atrocidades. As ruínas que vemos hoje, eram as câmaras de gás, os crematórios e os inúmeros alojamentos de prisioneiros.
Ruínas do alojamento masculino. As chaminés eram do aquecimento.
Vista aérea Auschwitz II Birkenau (GoogleMaps).
O que visitar em Auschwitz II Birkenau.
A Rampa - Para acelerar a chegada e o desembarque dos prisioneiros, foi construída a chamada "rampa ferroviária", uma ramificação com 3 trilhos, onde podiam estacionar vários vagões de uma vez. Uma logística perfeita para receber prisioneiros em massa.
Antes, os trens paravam ao lado de Auschwitz I, e os prisioneiros tinham de ser conduzidos a pé ou de caminhão, sob escolta. A partir de março de 1944, os trilhos que atravessavam Birkenau passaram a ser utilizados para transportar as pessoas até a beira das câmaras de gás, o que acelerava e simplificava o processo de extermínio.
O Vagão da Rampa - Na rampa, fica exposto um vagão de gado que foi usado para transportar os judeus húngaros. Ele foi colocado ali em 2009 como símbolo, para mostrar como eram as condições em que os prisioneiros viajavam. Antes mesmo da chegada, muitas pessoas morriam nos vagões, de fome, sede, calor ou frio, dependendo da época do ano.
A Seleção - Assim que os prisioneiros desembarcavam dos trens, era feita uma seleção. Quem não podia trabalhar (como crianças, idosos e doentes) eram mandados imediatamente para as câmaras de gás. As pessoas fisicamente melhores, eram poupadas da morte para trabalhar como mão-de-obra escrava, condenadas a viver em condições deploráveis. Mas todos acabariam mortos em algum momento.
Os guardas forçavam uma orquestra a tocar enquanto os judeus caminhavam em direção à "seleção" e possível morte. Os músicos eram judeus prisioneiros, que devido às circunstâncias, tinham entre si a maior taxa de suicídio do campo. (Fonte: Arquivos do Museu de Auschwitz)
Sauna da desinfecção - A Sauna Central (que de sauna mesmo não tinha nada) começou a funcionar em 1943. Lá os prisioneiros eram obrigados a abandonar todos seus pertences, que eram guardados em um galpão lateral. Depois, as pessoas eram totalmente despidas, tinham os cabelos raspados e passavam por duchas coletivas de desinfecção (contra piolhos, vermes, pragas e outras doenças). O objetivo era controlar as epidemias que podiam ameaçar a força de trabalho, além de proteger os oficiais nazistas que também corriam o risco de serem infectados.
Sauna, o prédio da desinfecção.
"Linha de Montagem"- Ao visitar a Sauna, nós visitantes fazemos exatamente o mesmo percurso que os prisioneiros eram obrigados a fazer. A gente caminha em fila pelas salas na mesma ordem que os judeus faziam, e isso me deixou bastante impressionada, porque era como "uma linha de montagem", e durante o percurso, a gente se sente assim mesmo.
Nós (os visitantes) percorremos o mesmo caminho que os prisioneiros faziam na Sauna para desinfecção.
A Sala das Fotos - A Sauna ficava ao lado do galpão onde eram jogados os objetos pessoais dos prisioneiros. Por isso, na última sala de visitação da Sauna, ficam expostas as fotografias encontradas no meio desses objetos. Depois que o campo foi libertado, o museu resgatou o que foi possível e organizou as fotos nessa exposição.
Canadá - O galpão que ficava ao lado da Sauna, usado para armazenar os objetos dos prisioneiros, era chamado de "Canadá". Tinha esse nome porque o Canadá era visto como uma terra de fartura. Muitos guardas do campo enriquecerem roubando os objetos confiscados. O galpão Canadá não existe mais. Ele foi implodido pelos nazistas, um pouco antes da guerra acabar, na tentativa de apagar provas de seus crimes. Os poucos itens que foram salvos, são aqueles que ficam expostos nos Blocos 4 e 5 de Auschwitz I.
Reparação Histórica - A abertura do prédio da sauna aos visitantes e o restauro do seu interior só foi possível graças à ajuda financeira dos governos dos Estados Federais alemães. Como forma de reparação histórica, o governo alemão tem ajudado financeiramente com a doação de muitos milhões de euros por ano para causas referentes ao resgate e preservação da memória das vítimas do holocausto.
Números Tatuados - As pessoas mandadas para as câmaras de gás, nem chegavam a ser registradas. Mas os prisioneiros selecionados para trabalhar, recebiam um número de identificação (que era tatuado no antebraço). Esse número também era costurado nos uniformes listrados que recebiam, e assim, os prisioneiros eram "cadastrados no sistema". Auschwitz foi o único campo de concentração que tatuava o número de registro no braço das pessoas.
Foto: Gettyimages.
Peças usadas para tatuar. Foto: Gettyimages.
Alojamentos de prisioneiros - No lado direito do campo de Auschwitz Birkenau ficavam os barracões de madeira usados para alojar prisioneiros homens. Era chamado de Setor BII. No lado esquerdo do campo, ficavam os barracões de tijolos usados para mulheres e crianças. Era chamado de Setor BI. Alguns prédios ficam abertos e os visitantes podem entrar.
Setor BII, alojamento para homens - Os galpões de madeira à direita do campo serviam de dormitórios que amontoavam centenas de homens. Originalmente, eram 170 galpões, mas hoje em dia só existem 18 de pé (os outros estão em ruínas, porque os alemães implodiram um pouco antes do campo ser libertado). Eram barracões primitivos, sem janelas nem isolamento do frio ou do calor. Não tinham luz elétrica e a pouca claridade que entrava, era pelo teto.
Beliches de madeira - Em cada barracão cabia cerca de 36 beliches de madeira com 3 andares cada um, e 6 prisioneiros dividiam espremidos um mesmo estrado.
As chaminés - O sistema de aquecimento era composto por dois fornos interligados por um canal longo que atravessava o galpão pelo meio. Porém, os barracões eram grandes e sem isolamento, e o calor gerado não era suficiente para aquecer o ambiente. Hoje em dia, quando caminharmos pelas ruínas, a única coisa que ainda vemos de pé desses barracões, são as chaminés.
Latrinas coletivas - Os banheiros eram comunitários e sem nenhuma privacidade. As latrinas eram buracos enfileirados, bem próximos uns dos outros. A superlotação e a falta de higiene causavam pragas (como piolhos e ratos) e epidemias de doenças contagiosas eram frequentes.
Por todo o campo, ficam placas explicativas contendo bastante informação.
Setor BI, alojamento para mulheres e crianças - Os barracões que ficam à esquerda do portão de entrada de Auschwitz Birkenau eram os destinados as prisioneiras mulheres e crianças. O campo feminino era separado do masculino pela linha de trem que cortava Auschwitz. Os prédios eram feitos de tijolos e os dormitórios eram com beliches mais largos e feitos de alvenaria.
Sem chance de escapar - Ao redor de todo o campo, e por todos os lados, havia cercas elétricas de arame farpado e muitas torres de vigilância. As cercas eram eletrificadas e várias pessoas se jogavam contra elas para cometer suicídio. Para evitar que isso acontecesse com frequência, os guardas ameaçavam com a seguinte punição: para cada pessoa que corresse em direção à cerca elétrica, 100 prisioneiros seriam escolhidos aleatoriamente e fuzilados na frente de todos para servir de exemplo. "Eles nem nos deixavam morrer quando queríamos." (Depoimento de uma sobrevivente).
Câmaras de gás e crematórios - Auschwitz II Birkenau possuía 4 grandes câmaras de gás e 5 eficientes crematórios, que foram construídos em 1942. Câmaras e crematórios ficavam no mesmo prédio, em salas lado a lado, para que as mortes e a queima dos corpos fossem mais eficientes. Auschwitz Birkenau foi o único campo de extermínio onde os cadáveres eram cremados em massa, em modernos e eficientes fornos crematórios, e não em valas de incineração como nos outros campos. A capacidade de Auschwitz Birkenau era tão impressionante, que podia cremar até 5 mil cadáveres por dia. Hoje em dia, onde funcionavam as câmaras e crematórios só há ruínas (porque os nazistas destruíram), mas no local tem uns painéis com fotos mostrando como os prédios eram.
Fotos mostrando como eram as câmaras de gás e crematórios antes dos nazistas destruírem tudo.
Hoje em dia, no local das câmaras de gás e crematórios, só restaram ruínas.
A "Solução Final" e o massacre de judeus húngaros - A "Solução Final" foi o nome dado ao plano de aniquilação total do povo judeu, idealizado pelos nazistas. O objetivo era exclusivamente o de exterminar todos os judeus europeus, de todos os territórios ocupados pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Quando Hitler deu a ordem para executar a "solução final da questão judaica", os judeus húngaros tiveram um grande azar. Sobreviveram aos primeiros 4 anos da guerra, mas no finalzinho, no último capítulo, sofreram um grande massacre. A Hungria foi invadida em 1944 e 475 mil judeus foram deportados para Auschwitz (metade da população judia da Hungria na época). Durante aqueles 3 meses, cerca de 12 mil judeus húngaros chegaram por dia em Auschwitz. Foi a época que as câmaras de gás operaram na capacidade máxima! O número de mortos era tão grande, que os guardas tiveram que queimar os corpos em pilhas ao ar livre, além dos crematórios, que sozinhos não estavam dando conta.
18 janeiro 1945: A Marcha da Morte - Próximo do final da guerra, quando a força militar alemã estava entrando em colapso, o exército soviético começou a libertar a Polônia. Nove dias antes dos soviéticos chegarem a Auschwitz, os alemães decidiram remover os prisioneiros e deslocá-los para outros campos. Hitler já estava desesperado, quase perdendo a guerra. Mas a guerra contra os judeus ele não queria perder.
A ordem foi dada, e a partir de 18 de janeiro de 1945, as "Marchas da Morte" aconteceram em vários campos. No caso de Auschwitz, os soldados deslocaram cerca de 60.000 prisioneiros que foram obrigados a marchar em direção à cidade de Wodzislaw, na Polônia. Os guardas atiravam em quem não conseguisse acompanhar o passo. 15 mil prisioneiros enfraquecidos, famintos e sem proteção contra o frio morreram durante as marchas da morte de Auschwitz. Em Wodzislaw, os prisioneiros foram colocados em trens de carga sem calefação e deportados para os campos de concentração na Alemanha, principalmente para Flossenberg, Sachsenhausen, Gross-Rosen, Buchenwald, Dachau e Mauthausen. Muitos judeus húngaros recém chegados no campo foram obrigados a marchar à pé para o campo de concentração de Dachau, perto de Munique na Alemanha. A caminhada durou 10 dias, durante inverno rigoroso, com os prisioneiros expostos ao frio extremo, sem agasalho, com pouca ou nenhuma comida, água ou descanso. Os que não conseguiam acompanhar o grupo eram assassinados a tiros. Um em cada quatro prisioneiros morreu no caminho. (Fonte: United States Holocaust Memorial Museum)
Muitos poloneses e tchecos moradores das localidades por onde essas marchas passavam ajudaram secretamente os prisioneiros, dando-lhes água, comida e até escondendo vários deles em casas ou celeiros até a chegada das tropas aliadas. Após a guerra, muitas destas pessoas foram homenageadas pelo governo de Israel, por arriscarem suas vidas para ajudar prisioneiros judeus a sobreviverem nos estágios finais da guerra.
27 janeiro 1945: A libertação de Auschwitz - Havia duas guerras acontecendo ao mesmo tempo: a guerra da Alemanha contra o resto da Europa e a guerra de Hitler contra os judeus. A crueldade cega e irracional de matar os judeus restantes quando a guerra estava praticamente acabada, fez com que os nazistas desviassem trens, outros meios de transporte, soldados, recursos e dinheiro para concluir o programa da “Solução Final”. Historiadores afirmam que se Hitler tivesse dedicado os últimos meses da guerra se preocupando mais com estratégias e menos com a obsessão de matar os judeus, provavelmente a Alemanha resistiria por mais tempo.
A última seleção de prisioneiros para as câmaras de gás ocorreu em outubro de 1944. No mês seguinte, foi ordenado que os crematórios fossem destruídos antes que o exército soviético chegasse aos campos. Este esforço foi uma tentativa nazista para destruir as provas do Holocausto. As câmaras de gás foram explodidas em janeiro de 1945, e documentos e objetos foram queimados ao ar livre. A maioria dos prisioneiros que trabalhavam nas câmaras e no crematório foram executados para não haver testemunhas. O campo começou a ser evacuado. Os 7500 prisioneiros abandonados deixados em Auschwitz para morrer foram libertados em 27 de janeiro pelo Exército de Frente Ucraniana do Exército Vermelho.
Testemunho de Anatoly Shapiro, primeiro oficial soviético que abriu os portões e entrou no complexo de Auschwitz, no dia da libertação, 27 de janeiro de 1945: "Entramos ao amanhecer de 27 de janeiro. Havia um cheiro tão forte que era impossível aturar por mais de cinco minutos. Meus soldados não conseguiam suportá-lo e me imploraram para que fôssemos embora. Mas tínhamos uma missão a cumprir. Vimos algumas pessoas de pé em roupas listradas - eles não pareciam humanos. Eram pele e osso, somente esqueletos. Quando dissemos a eles que o Exército soviético os havia libertado, eles sequer reagiram. Não conseguiam falar ou mesmo mexer a cabeça. Os prisioneiros não tinham calçados. Seus pés estavam envoltos em trapos. Era janeiro e a neve estava começando a derreter. Até hoje não sei como conseguiram sobreviver. Quando chegamos ao primeiro pavilhão, estava escrito que era para mulheres. Entramos e vimos uma cena horrível. Mulheres desnudas e mortas jaziam perto da porta. Suas roupas tinham sido removidas pelas sobreviventes. Havia sangue e excrementos pelo chão. Nos alojamentos infantis, havia apenas duas crianças vivas. E elas começaram a gritar 'Não somos judias! Não somos judias'. Elas eram judias, mas estavam com medo de serem levadas para as câmaras de gás. Nossos médicos as tiraram dos alojamentos para serem limpas e alimentadas. Abrimos as cozinhas e preparamos refeições leves para os prisioneiros. Algumas das pessoas morreram porque seus estômagos não podiam mais funcionar normalmente. Vi os fornos e as máquinas de matar. As cinzas (dos mortos) eram espalhadas pelo vento."
Memorial - No final da linha do trem que corta o campo, há um memorial em homenagem às vítimas que passaram por Auschwitz. O monumento é feito de blocos de pedra empilhados, e no chão à frente, há 23 placas escritas em 23 idiomas diferentes que dizem: "Para sempre que este lugar seja um grito de desespero e um aviso à humanidade, onde os nazistas assassinaram cerca de um milhão e meio de homens, mulheres e crianças, principalmente judeus de vários países da Europa". A obra é do escultor italiano Pietro Cascelli, e foi inaugurada em 16 de abril de 1967.
No centro do bloco mais alto tem um triângulo, que era o símbolo de identificação que os prisioneiros usavam no uniforme listrado. Os triângulos tinham cores diferentes. Cada cor correspondia a uma característica do prisioneiro: nacionalidade, religião, posição política, opção sexual, etc.
Eu vi um sobrevivente! - E para finalizar, gostaria de deixar aqui registrado uma coisa que aconteceu lá no campo comigo, e que me deixou bastante tocada. Quando eu já estava indo embora, vi um senhorzinho de uns 90 anos, acompanhado da família. Eles estavam visitando o campo também. Vi que ele tinha no braço uma tatuagem de números... Foi aí que me dei conta: Eu estava frente a frente com um sobrevivente do Holocausto!!! ... ... ... Então eu parei no meio daquele devastador campo vazio, e fiquei observando por alguns minutos aquele senhor, enquanto um turbilhão de sensações passava pela minha cabeça.
É muito difícil compreender o real tamanho do que aconteceu em Auschwitz, até o momento que a gente pisa naquele lugar.
Para quê visitar um lugar como esse?
Antes de ir, eu me questionei se realmente deveria visitar um lugar como esse, cheio de energias pesadas e negativas. Conversei com meus filhos e com meu marido, e eles me encorajaram a ir. A história não pode ser mudada, mas também não pode ser esquecida. O que aconteceu ali foi terrível e tenebroso, mas que sirva de exemplo para a humanidade não cometer os mesmos erros.
Antes de entrar em um dos pavilhões de Auschwitz, há uma placa: “Aqueles que esquecem a história, estão condenados a repeti-la”.
Aí eu percebi que visitar Auschwitz não é turismo. Não é passeio. Não é fácil, precisa ter estômago, mas é necessário. Visitar Auschwitz é uma lição. É muito difícil compreender o real tamanho do que aconteceu, até que você esteja realmente ali.
Esse lugar tornou-se tão importante para o mundo, que em 2002 a UNESCO declarou oficialmente o complexo de Auschwitz-Birkenau como Patrimônio da Humanidade.
É apropriado tirar fotos em um campo de concentração?
Tirar fotos, eu acho ok. Posar para elas, eu acho inapropriado.
Na minha opinião, registros do lugar podem ser feitos, desde que com muito respeito obviamente. Depois você decide se quer guardar as fotos para você, ou se quer compartilhar com a humanidade. Mas acho importante falar daquele lugar, divulgar fotos, compartilhar etc. O horror que aconteceu ali jamais deverá ser esquecido.
Não devemos esquecer que quando a guerra acabou, os nazistas tentaram negar a existência dos campos de concentração. Com medo das condenações de guerra, eles tentaram destruir tudo que podiam. Antes disso acontecer, fotos e vídeos foram feitos para preservar provas da existência das atrocidades. Então, nós não seremos os primeiros nem os últimos a fotografar aquele lugar.
Mas preste atenção: Eu não acho respeitoso as fotos com poses ou selfies. Rindo, NEM PENSAR! É estranhamente ridículo. Não suba nos lugares em busca de melhores ângulos. Pelo amor de Deus gente, lembre-se que não é um parque da Disney. Muitas pessoas morreram ali.
Existem lugares em Auschwitz onde as fotos são proibidas, por exemplo, dentro das câmaras de gás. Então RESPEITE! Não tente dar de “esperto” e fotografar escondido. Nada a ver se vangloriar com uma atitude dessa.
Arbeit macht frei: significado da frase, B invertido e roubo da placa
A frase Arbeit macht frei (O trabalho liberta) aparece escrita em quase todos os portões de entrada dos campos de concentração nazistas. Sem saber o que lhes esperava, os prisioneiros que ali chegavam tinham a doce ilusão de que se trabalhassem por um tempo, teriam suas penas cumpridas, e em troca ganhariam a liberdade. Infelizmente, sabemos que essa nunca foi a verdadeira mensagem.
A frase não foi uma criação nazista. Ela já aparecia em literaturas, livros e textos há muito tempo, bem antes do nazismo surgir. Obviamente que ela não tinha o contexto maldoso em que foi transformado mais tarde. No início, os nazistas utilizavam a frase como propaganda na luta contra o elevado desemprego na Alemanha, mas anos depois, virou slogan dos campos de concentração. "O trabalho liberta" se tornou um deboche com intenção cínica de zombar das pessoas que sofreriam um tratamento desumano, com trabalho forçado, humilhação, e no fim de tudo, a morte.
No caso específico da placa de Auschwitz, o letreiro tem a letra "B" de cabeça para baixo!
Fabricada em julho de 1940 por um prisioneiro polonês, o ferreiro Jan Liwacz, a placa de Auschwitz é de aço, mede cinco metros e tem uma particularidade: a letra B da palavra Arbeit está invertida. De acordo com depoimentos perpetuados pelos sobreviventes, o B invertido simbolizava insubmissão e a resistência à opressão nazista.
Quando, em 27 de janeiro de 1945, o exército soviético libertou Auschwitz, a placa foi removida e ia ser enviada para longe. No entanto, Eugeniusz Nosal, um prisioneiro polonês recém-libertado, subornou um guarda soviético com uma garrafa de vodca e recuperou a placa, que ficou escondida durante 2 anos na prefeitura de Oświęcim. Quando o campo virou museu em 1947, a placa voltou para seu lugar original.
Mas a história da placa não termina aí!!! ... ... ...
A placa foi roubada!
Em dezembro de 2009, a placa foi roubada por 5 homens (supostamente neonazistas) de idades entre 20 e 39 anos. Dias depois, eles foram capturados no norte da Polônia e presos. Suspeita-se que o roubo foi encomendado por um colecionador sueco de extrema direita.
A placa foi recuperada, porém encontrada dividida em 3 partes (uma palavra em cada parte). Ela foi devolvida ao museu e restaurada. Porém, não voltou ao seu lugar original. No futuro, ela será exibida em uma sala fechada do museu. A placa que está hoje na entrada do campo, é uma réplica.
O B invertido virou escultura
A letra B invertida se tornou um símbolo de resistência e uma homenagem às vítimas do holocausto. Em 2010, o Comitê Internacional de Auschwitz criou uma escultura na forma do “B” invertido, chamada de “To B remembered”. A ideia veio da francesa Michèle Déodat, que sempre esteve muito envolvida com os trabalhos do Comitê Internacional de Auschwitz. A obra foi desenhada pelo artista de Berlim Lutz Brandt. Em 2013, estagiários da Volkswagen de Hanover fabricaram a escultura, que tem 2 metros de altura. A escultura foi inaugurada em Berlim e ficou exposta na praça Wittenbergplatz até 2014. Hoje em dia, ela fica rodando o mundo em exposições itinerantes.
Desde 2010, o Comitê Internacional de Auschwitz concede uma mini escultura do B invertido como prêmio a personalidades que agem em memória dos sobreviventes de Auschwitz. Quem já recebeu o prêmio por exemplo, foi o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Anne Frank
Anne Frank foi uma prisioneira de Auschwitz que se tornou famosa depois da sua morte. Ela foi uma adolescente alemã de origem judaica que vivia na Holanda. No final de 1944 chegaram a Auschwitz os últimos trens de judeus vindos de toda a Europa. Anne Frank, de 15 anos, e sua família estavam entre os deportados da Holanda. Logo no desembarque, Anne foi separada dos seus pais.
Ela e sua irmã passaram 2 meses em Auschwitz. Devido as péssimas condições de higiene no campo, uma epidemia de tifo se alastrou e as duas contraíram a doença. Ambas foram mandadas para o campo de Bergen-Belsen na Alemanha. Lá, Anne morreu da doença, aos 15 anos, em 1945.
Ela se tornou uma das figuras mais conhecidas do século 20, depois que seu pai (que sobreviveu) publicou o livro "O Diário de Anne Frank" em 1947, dois anos após sua morte. No seu diário, Anne narra os dias que ficou escondida com a família em um prédio em Amsterdam para não serem capturados pelos nazistas.
O prédio onde a família de Anne Frank ficou escondida (durante 3 longos anos!) existe até hoje em Amsterdam e em 1960, foi transformado em museu. O lugar é aberto ao público e pode ser visitado.
Eu estive no esconderijo de Anne Frank em Amsterdam. Para ver CLIQUE AQUI
O Diário de Anne Frank
Com o fim da guerra, o único sobrevivente foi o pai de Anne, que descobriu o diário da filha e o publicou em 1947. Desde então, é um dos livros mais traduzidos e vendidos do mundo.
O diário original de Anne fica exposto na casa, dentro de uma caixa de vidro, para todos os visitantes verem.
Como chegar
De Cracóvia à Oświęcim são 80 Km. Eu fui de trem e levei 2 horas. Saí da estação central de Cracóvia e desci na estação de Oświęcim sem problemas. Comprei o ticket do trem na hora, na própria estação, tanto a ida quanto a volta. Foi fácil e rápido.
Chegando na estação de trem de Oświęcim, tem um ônibus que fica parado na frente que leva as pessoas até o complexo de Auschwitz I (onde a visitação começa). O transporte é GRATUITO. O percurso é de 2 quilômetros.
Se você preferir ir de carro de Cracóvia à Auschwitz, o trajeto é mais rápido, cerca de 1 hora e 10 minutos. Nos complexos de visitação têm estacionamentos enormes e cheios de vagas (tem que pagar).
Como é a visitação
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Hoje, Auschwitz é um MUSEU/MEMORIAL com entrada GRÁTIS. Só paga se você quiser fazer uma visita guiada. Mas não achei necessário. Logo na entrada, eles emprestam um aparelhinho de áudio-guia (pode escolher a língua) que explica tudinho. Dá pra fazer sozinho mesmo, numa boa.
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ATENÇÃO: Antes de ir tem que fazer reserva no site oficial → CLIQUE AQUI
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Os ingressos são GRATUITOS, com horário de entrada definidos. Podemos escolher a hora de acordo com a disponibilidade no site. A entrada é organizada em grupos de pessoas que agendaram para o mesmo horário. Cada horário tem um número limite de reservas.
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O campo de concentração é um complexo com 2 áreas: Auschwitz I e Auschwitz II (Birkenau). A visitação começa em Auschwitz I, onde fica o centro de visitantes e onde a gente pega os ingressos que reservamos online. Lá eles colam um adesivo de controle na nossa roupa.
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Na verdade, Auschwitz era um complexo com 4 campos de concentração: Auschwitz I, Auschwitz II (Birkenau) e outros 2 campos menores, Buna e Monowitz, que eram campos de trabalhos forçados. Esses dois últimos não podem ser visitados e quase nem existem mais.
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Há um ônibus que transporta os visitantes de Auschwitz I para Auschwitz II Birkenau. O trajeto é de 3,5 Km. O ônibus é GRATUITO e passa de 10 em 10 minutos (no verão). No inverno, passa a cada meia hora.
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Depois que eu entrei, eu mesma controlei meu horário. Não precisa ficar preso ao grupo. O tempo de visitação é livre. Pode ficar o tempo que quiser.
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Na entrada tem uma inspeção, tipo uma revista dos itens que levamos nas bolsas ou mochilas. Não pode entrar com mochilas grandes nem com malas de mão. Mas tem guarda-volumes.
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NÃO PODE COMER NADA durante a visitação. É proibido consumir qualquer tipo de alimento dentro dos campos.
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Tempo de visitação: Eu gastei 2 horas e meia para visitar cada complexo. Entre um complexo e outro, fiz uma pausa para lanche (na cafeteria do próprio museu). Então no total, gastei 6 horas para visitar tudo com calma e tranquilidade, fora o tempo que gastei no trajeto de ida e volta saindo de Cracóvia.
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Se puder escolher, evite os finais de semana (principalmente no verão) porque fica muito cheio. Eu fui em dia de semana e estava relativamente tranquilo. Minha visita foi no final de setembro.
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Se preferir, compre antes e leve seu lanche para comer lá, porque ao redor dos campos, as opções de lugares para comer não são muitas. Tem uma praça muito agradável em frente ao centro de visitantes (onde a gente pega os ingressos). Fica muita gente sentada ali descansando e fazendo uma pausa.
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O lance de controle de ingressos é só para Auschwitz I. No caso de Auschwitz II Birkenau, a gente não precisa apresentar nenhum bilhete para entrar. A entrada é totalmente livre. Não há nem controle de bolsas, mochilas ou bagagens.
Então programe-se:
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Auschwitz I é um complexo relativamente menor, mas tem muita coisa para ver. São muitos prédios para entrar e explorar cada tema. A visitação ocorre em ambiente fechado, coberto.
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Auschwitz II Birkenau é um campo enorme e amplo. É tão grande que é muito fácil você se sentir completamente isolado, mesmo que centenas de pessoas estejam andando por ali. A gente anda muito ao ar livre. Tem menos coisas para visitar, mas as distâncias entre um ponto ao outro são grandes.
Auschwitz, a origem do nome
O campo de concentração de Auschwitz fica na cidade de Oświęcim, a 80 Km de Cracóvia. Auschwitz era a forma que os alemães pronunciavam a palavra polonesa Oświęcim.
Na verdade, o complexo tem 2 campos de concentração: Auschwitz I e Auschwitz II Birkenau. "Birkenau" é a tradução alemã para Brzezinka (floresta de bétulas - um tipo de árvore). Esse era o nome da pequena vila polonesa onde o campo foi construído.
Localização: Por que em Oświęcim?
Muito antes de ser conhecida pelos campos de concentração, Oświęcim era uma cidade pequena, mas com uma história agitada. Em 1900, se tornou ponto de parada para uma importante ferrovia e prosperou economicamente.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade despertou o interesse dos nazistas porque:
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Já existia por lá um quartel do exército que serviria de base;
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Oświęcim contava com uma importante rede de ferrovias que a conectava com as principais cidades da região, o que facilitaria muito a logística de transporte de prisioneiros em massa;
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Oświęcim era perto de Cracóvia, cidade onde ficava a Base Nazista do Leste;
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Era um lugar isolado: a cidade oferecia espaço ideal para medidas que assegurassem isolamento.
Então, a área onde já existiam 16 prédios que serviam de alojamento para a artilharia do exército, passou a funcionar como campo de concentração.
O Papa João Paulo II em Auschwitz
A visita do Papa em Auschwitz em 1979.
João Paulo II era polonês. Karol Józef Wojtyła nasceu no dia 18/05/1920 em Wadowice, uma pequena cidade perto de Cracóvia. Aos 18 anos de idade, mudou-se para Cracóvia para cursar a universidade.
Durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha invadiu a Polônia, os nazistas fecharam a universidade onde Karol estudava. Todos os homens do país foram obrigados a trabalhar em coisas relacionadas com a guerra. Assim, de 1940 até 1944, Karol trabalhou em diversos empregos. Por causa do trabalho, foi poupado de ser deportado para a Alemanha ou para a frente de guerra onde faria trabalhos forçados.
Em 1942, começou a ter aulas no seminário para se tornar padre.
Em 1944, foi atropelado por um caminhão do exército nazista. O oficial alemão o socorreu e o enviou para um hospital, onde Karol passou duas semanas se recuperando. Para ele, o acidente e a sua sobrevivência foram a confirmação de sua vocação. Meses depois, no chamado "Domingo Negro", a polícia secreta alemã (Gestapo) juntou os homens de Cracóvia para evitar uma rebelião similar a ocorrida em Varsóvia. Karol escapou se escondendo no porão da casa de um tio. Mais de oito mil homens e rapazes foram levados presos naquele dia, mas Karol conseguiu escapar para o palácio do arcebispo, onde ele permaneceria até o fim da guerra.
A organização judaica afirmou que durante a guerra, Karol ajudou a proteger muitos judeus poloneses dos nazistas.
Em janeiro de 1945, os alemães perderam a guerra e fugiram da cidade. Com isso, os estudantes puderam retomar os estudos e ao seminário. Karol se tornou padre, arcebispo, bispo e mais tarde, em 1978, se tornou Papa. Leia a história completa do Papa João Paulo II CLIQUE AQUI
Em 1979, João Paulo II tornou-se o primeiro papa a visitar o campo de concentração de Auschwitz, onde muitos de seus amigos (judeus poloneses) haviam morrido durante a Segunda Guerra Mundial. Auschwitz fica perto de Cracóvia e antigamente, fazia parte de sua diocese. Nos anos posteriores, as relações entre o catolicismo e o judaísmo melhoraram com o pontificado de João Paulo II. Ele falou com frequência sobre a relação da Igreja com os judeus.
João Paulo II nas celas dos porões de Auschwitz.
Por que Hitler odiava tanto os judeus?
Hitler nasceu em uma pequena cidade da Áustria, na fronteira com a Alemanha. Passou boa parte da sua adolescência entre Viena e Munique, e como muitos austríacos alemães daquela época, teve contato com ideias antissemitas desde muito jovem. Isso quer dizer que a perseguição contra os judeus não surgiu com Hitler, nem com o nazismo. O antissemitismo já exista na humanidade há centenas de anos, beeemmm antes mesmo de Hitler existir.
Desde a época de Jesus Cristo
A perseguição contra os judeus aparece desde os tempos da Bíblia. O cristianismo, após tornar-se a religião oficial do Império romano, contribuiu bastante para isso, retirando a culpa da crucificação de Jesus que pesava sobre os romanos e atribuindo aos judeus, que passaram a ser vistos como os "assassinos de Cristo".
Jesus era judeu, e há trechos na Bíblia que mostram que os próprios judeus se opunham a ele, e tinham a intenção de matá-lo. Também há trechos que Jesus chama o povo judeu de "hipócritas" e de "diabos". Exemplo: Mateus 23 Jesus disse: “Vocês acham que são filhos de Abraão? Vocês são filhos do diabo”. Os fariseus são filhos do diabo, assassinos desde o princípio, por isso estão querendo me matar. O diabo é o pai da mentira."
Os hebreus (que eram os antepassados do povo judeu) viviam na chamada "Terra a eles prometida por Deus", de acordo com a tradição bíblica. A Terra Santa ficava em um lugar geográfico bastante estratégico, e por isso, foi muito disputada pelos grandes impérios da época, o que gerava muitas guerras e invasões. Nesse contexto, os judeus foram sendo expulsos de suas terras.
Perseguição religiosa
Expulsos de suas terras, muitos judeus foram parar na Europa. Mesmo fora de seu território, os judeus se mantinham como um povo ou uma nação, devido ao imenso apego a suas tradições religiosas e culturais. Por isso era um povo que não se integrava com os costumes dos países em que viviam, eles "não se misturavam". Os judeus sempre constituíram minorias em outros países, sendo constantemente discriminados e perseguidos por isso.
Durante a Idade média, a Igreja católica imperava e a Europa era dominada pela cultura cristã. Então, é fácil entender que as perseguições que os judeus sofreram foram por causa da religião. Por consequência disso, era um povo muito rejeitado, proibido de possuir terras, de atuar em certas profissões e de viver onde bem quisessem. Então, os judeus não viveram da agricultura, como era comum entre os povos medievais. Eles viviam do comércio, o que os permitiu acumular dinheiro. Uma das poucas profissões permitidas aos judeus era a de agiota, já que os cristãos eram proibidos de praticar a “usura” (obtenção de lucro por meio do empréstimo). Os judeus os fundadores dos primeiros bancos.
A ascensão financeira dos judeus por meio da usura e dos bancos despertou a raiva dos europeus, em especial os católicos, que passaram a hostilizá-los, criando um estereótipo de que eles eram avarentos, ardilosos, hostis e conspiradores. E como Shakespeare ilustra em "O mercador de Veneza", o agiota judeu acabou se tornando uma figura odiada.
Na Alemanha, em 1543, Martinho Lutero escreveu palavras duras sobre os judeus: "Eles nada mais são do que ladrões e usurpadores que nos furtam por meio de sua maldita usura. Vamos expulsá-los de vez desse país! Fora com eles!”.
Em várias épocas, em diversas cidades da Europa, os judeus foram obrigados a residir isolados em guetos e a usar uma marca de identificação em suas roupas, uma estrela amarela por exemplo.
Durante os séculos 16 e 17, judeus foram torturados e executados por falsas acusações de profanar a hóstia, o símbolo sagrado que simboliza o corpo de Cristo durante a comunhão.
Em meados do século 19, a maior parte dos judeus se encontrava nos países do leste europeu, como Polônia, Lituânia, Hungria e Rússia.
Onda Nacionalista
No século 19, uma forte onda de nacionalismo atingia a Europa. A Alemanha passou por enormes mudanças: a produção de carvão aumentou, a população cresceu, a política mudou. Com todas essas reviravoltas, muitos passaram a levantar profundas questões sobre a natureza cultural e espiritual dessa nova nação. Uma delas era: O que significava "ser alemão"?
Além de um grupo de pessoas que fala a mesma língua, compartilha da mesma herança cultural e tem com o solo sua Terra natal, havia também o significado de manter a pulsação do povo aquecida, de modo que "os alemães pudessem continuar alemães". O foco era exaltar o nacionalismo do povo alemão. E foi aí que nasceu o perigo!
O conceito de “povo alemão” adquiriu imensa importância e começaram a surgir movimentos para resgatar a conexão entre o povo alemão e sua Terra. E cada novo desenrolar de acontecimentos era um problema para os judeus alemães, já que eles se viam excluídos do conceito de “povo alemão”. Os judeus se tornaram um símbolo de tudo o que havia de errado com a nova Alemanha. Tudo era considerado culpa dos judeus.
Implicância com os judeus
A implicância com os judeus havia se tornado uma paranoia! Judeus eram vistos como uma força estrangeira poderosa secretamente infiltrada na sociedade alemã. A coisa chegou a tal ponto, que a dois anos antes da Primeira Guerra Mundial começar, associava-se a necessidade de “recuperar a saúde da vida nacional alemã”, com o extermínio total da influência judaica na sociedade.
Várias medidas restritivas contra os judeus foram propostas. Até surgir o “antissemitismo com base na razão”, com experiências pseudo-científicas feitas para justificar o ódio pelos judeus. E nesse celeiro de ideias radicais, crescia um até então adolescente chamado Hitler, que como vários outros jovens da sua idade, foram totalmente influenciados.
Essa antipatia crescente era até estranha, porque quase não havia judeus vivendo na Alemanha. Menos de 1% da população era de judeus. Muitos alemães jamais haviam tido contato com eles. Mas a ausência de judeus não era obstáculo para o ódio. Os velhos preconceitos de base cristã contra os judeus alemães só cresciam. E vinham de pessoas influentes, como filósofos, escritores, religiosos e políticos.
Soldados nazistas em frente a uma loja em Berlim colando uma placa com os dizeres: "Alemães! Defendam-se! Não comprem de judeus." Foto do Arquivo Federal Alemão (Bundesarchiv).
"Raça Superior" é "Raça Pura"
À partir daqui, a perseguição contra os judeus deixou de ser só pela "religião" e passou a ser também "pela raça".
A noção de que os seres humanos podiam ser distinguidos por "raças", e que algumas raças eram superiores a outras, ganhou um suporte quase que intelectual. E a raça branca ariana era tida como superior, claro!
Havia a teoria de que através de uma “cuidadosa seleção” seria possível produzir uma raça de homens altamente dotados, por meio de casamentos criteriosos durante várias gerações consecutivas. E que essa ação pudesse ser muito vantajosa para os futuros habitantes da terra. A ideia era que uma “higiene racial” era importante para a saúde de uma nação.
Essa "limpeza racial" pretendia eliminar não só os judeus, mas também negros, homossexuais, doentes mentais e deficientes físicos.
Não era só na Alemanha
Nessa época, muitos outros países da Europa, além da Alemanha, apoiavam ideias antissemitas. Na Rússia por exemplo, a violência contra judeus antes da Primeira Guerra Mundial foi terrível. Na Itália, na Áustria e na Hungria, os judeus também eram muito odiados. Historiadores dizem que havia muitos outros "Hitlers" espalhados pela Europa, mas o da Alemanha se sobressaiu por causa do poder que o nazismo adquiriu naquele país.
A Derrota na Primeira Guerra Mundial
As circunstâncias em que a Primeira Guerra Mundial terminou para a Alemanha deram aos antissemitas mais motivos para culpar os judeus. Através da lenda da “punhalada pelas costas”, foi atribuída a perda da guerra a uma ligação entre os judeus e o comunismo, e não ao fracasso das forças militares alemãs em si. De acordo com a teoria conspiratória, o povo não tinha respondido ao "chamado patriótico" e que havia acontecido uma sabotagem do esforço de guerra pelos socialistas, bolcheviques e judeus alemães.
Soldado judeu alemão na Primeira Guerra Mundial.
À medida que a teoria tomou força e se tornou popularmente aceita, ficou claro que o povo havia sido “doutrinado”, a ponto de considerar a Alemanha a vítima, e não a culpada pela guerra. Essa onda enfraqueceu o governo atuante, desestabilizou o sistema, e fortaleceu a extrema-direita.
No pós-guerra, havia muitos judeus banqueiros, donos de comércios, participando ativamente na economia, no exército e em muitos outros cargos atuando em posições sociais importantes, afinal de contas, eram judeus mas eram alemães! Mas eles foram acusados de instigar uma revolução comunista na Alemanha, de destruir o velho regime político baseado no Kaiser, foram acusados de concordar com os termos do tão odiado Tratado de Paz de Versalhes (considerado cheio de injustiças impostas pelos vencedores da guerra) e por participarem do governo de Weimar marcado pela hiperinflação de 1920.
Historicamente falando, muitos fatos foram exagerados e outros ignorados. Mas, a maioria dos alemães nem quis discutir. Estavam muito abalados com a terrível situação em que se encontravam: milhões sofriam com a escassez de comida e com os efeitos de uma epidemia de gripe em 1918, que causou imenso sofrimento e muitas mortes. Por tudo isso, e pelo medo de uma iminente revolução comunista, muitos se voltaram para o antissemitismo como uma maneira conveniente de explicar o sofrimento. E assim, a nação foi sendo contaminada pelo ódio.
Surgimento do Partido Nazista e o Poder de Hitler
Quando a Primeira Guerra Mundial terminou (1918), desenvolveu-se um antissemitismo racial tão grande, como nunca visto antes. Era um cenário de derrota e de enorme insatisfação popular. Hitler havia lutado na guerra como soldado servindo o exército alemão (apesar de ser austríaco). Sempre foi um militar sem muita importância, até surgir com ideias de revalorização da cultura e da identidade patriótica alemã a fim de restabelecer a ordem econômica do país. Com isso, ganhou a atenção de líderes da extrema-direita que ganhava força política no sul da Alemanha.
Em 1920, o Partido Nazista foi fundado com sede em Munique, cujo programa era de ideologia anticapitalista e antimarxista, marcado pelo antissemitismo radical, pelo racismo, pelo preconceito e pela rejeição à democracia. Hitler assumiu a liderança do partido, e logo em seguida foi nomeado Chanceler da Alemanha, em 1933. Hitler rapidamente estabeleceu um regime totalitário e unipartidário (ditadura) que foi chamado de Terceiro Reich.
Havia 2 guerras paralelas acontecendo
Hitler assumiu o poder com duas grandes obsessões:
- recuperar, a qualquer custo, os territórios que a Alemanha havia perdido na Primeira Guerra Mundial (muitos desses territórios ficavam na Polônia);
- e exterminar os judeus, porque na cabeça dele, se não acabassem com judeus naquele momento, os judeus acabariam com o povo alemão no futuro.
Quando a Alemanha invadiu a Polônia em 1939 (fato que marcou o início da Segunda Guerra Mundial), havia duas guerras acontecendo ao mesmo tempo: a guerra da Alemanha contra a Europa e a guerra de Hitler contra os judeus. E invadir a Polônia foi um "prato cheio", porque lá vivia o maior número de judeus na Europa.
O Holocausto
Por consequência, veio o Holocausto, fenômeno de destruição em massa do povo judeu, com perseguição, exclusão social e econômica, expropriação de bens, trabalhos forçados, torturas, guetização e extermínio de 6 milhões de judeus de toda a Europa ocupada pelas forças nazistas. Esse período durou 6 longos anos, até 1945 quando a guerra terminou. A Alemanha perdeu a guerra, os campos de extermínio foram libertados, Hitler se suicidou e o Partido Nazista foi extinto.
Criação do Estado de Israel
Em 1948, três anos depois do fim da Segunda Guerra, os países vitoriosos junto com a ONU decidiram criar uma nação para os judeus chamarem de sua. Na região da “Terra Santa”, criaram o Estado de Israel, e finalmente os judeus que quisessem, poderiam "voltar pra casa", para sua Terra Natal, como sempre sonharam. Mas, no mesmo lugar já viviam os Palestinos... Desde então, o convívio entre os dois povos nunca foi tranquilo. É uma região de muita tensão e muitos conflitos. Mas esse é um tema para outro Post.
Fontes de Pesquisa
Para escrever esse post sobre a visitação em Auschwitz, eu busquei informações nas seguintes fontes:
- Livro: The Final Solution - Gerald Reitlinger
- Livro: The Destruction of the Europen Jews - Raul Hilberg
- Arquivos do Museu do Holocausto
- Documentário "Last Days"
- Arquivos do Holocaust Centre North
- Site: remember.org - Histórias do Holocausto
- Livro: "É isso um Homem?" - Primo Levi
- Livro: O Holocausto - Laurence Rees
- Placas informativas e explicativas ao longo da visitação em Auschwitz
Ana Cassiano
Morei na Alemanha por 8 anos. Já visitei vários países de continentes diferentes. Sou Guia de Turismo em São Paulo, Escritora de Viagens e Colaboradora de Sites de Turismo.